sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um equilíbrio

Entre a coragem e o medo,
faleceu a efemeridade
de um espírito.

Desejou o inalcançável.
Sonhou com novos caminhos.
Cantou melodias.
Sem um mínimo de harmonia.

Dobrou a esquina.
Para encontrar essa nova ilusão.
Vivendo pouco. Dia após dia.
O equilíbrio. Do riso. E da dor.

Ao som de: “Coragem pra suportar”, Gilberto Gil

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Se...cura

Afogado pelo mar de sonhos,
vive a secura de um tempo
ausente de lembranças.

Emoções congeladas.
Compasso da tristeza.
Olhos cerrados.

Nem uma palavra.
Nenhuma lágrima.
Pelo menos, um verso.

Que seja um estímulo a este
último fio de esperança
que nos consome.

É preciso ser música
para adoçar o amargo
desta breve vida...

Para tornar-se, afinal,
mais um dentre todos.
O retirante do amor.

Ao som de: “Janta”, Marcelo Camelo

sábado, 9 de agosto de 2008

Pra ser

Pouco prazer.
No mínimo dos prazeres.
Pra ser urbano.
Pra seres humanos.

Aprisãon’alma.
Amor-daça a espera-nça.
Esconde sonhos e desilusões,
mentiras e verdades.

Enxerga escuridões,
quando delineia traços.
Ouve silêncios,
no compasso dos abraços.

Por onde percorrem
palavras e imagens,
sons são significados.

Matéria capital,
corrompida por
este (só)riso anárquico.

Corpo mecânico
desta contraditória
alma socialista.

És, por extenso,
composto de hum mil.
E nove centos e noventa e nove.
Manos.

Sagaz máquina de escrever.
De pazes e pares com a.
Pois é. Ia.

Revolta e meia desse incerto desencontro.
Desvira e remexe, esbarra sem - ter - limites.
Em busca de um (re)começo, que sucumbiu ao...

Ponto de exclamação?
Ponto de interrogação!
Ponto final...

Ah! São essas eternas reticências.
Permeadas de prazer.

Ao som: “Armadura”, Otto + “Na Zona Sul”, Sabotage

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Real.idade.

Foi incapaz de apresentar a este mundo
o que seu mundo quis dizer.

Esta real idade que escorrega
por entre os dedos.

O cisco que (des)equilibra
a visão.

Uma ou duas palavras
que entorpecem
o espírito.

A cicatriz no peito com
e 100 (fres)curas.

Abusou das reticências quando
o tempo boçal só reconhece
os pontos finais...

Cantou à capela esta melodia
que pede o acompanhamento de
uma. Banda, de.

Heavy bossa nova.
Easy metal.
New samba.
Old pagode.

Sem. ti. menti. os.
Sentimentos.

Ir.real.idade.
d(iário)o(ficial).
Pô.É.Tá.

Ao som de: “Porque é proibido pisar na grama”, Jorge Ben + “Chiclete com banana”, Gilberto Gil + “Jumento”, Os Saltimbancos

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Luz, câmera e... (pre)visão!

O despejar das primeiras gotas de chuva
são o prenúncio de um novo sentimento
deste tempo que insiste em mudar.

Onde reinava a infinidade do azul do céu,
hoje restou uma cobertura acinzentada de tristeza.

Onde se enxergava a claridade da esperança,
sobrou o silêncio desta escuridão.

Estou sempre a um passo da (in)certeza.
Em busca da não-poesia.
Que reflita esta essência.
Mutante.
Errante.
Repetitiva.

De uma curta história.
Escrita em rascunho.
Sem final feliz.
Ou créditos.
Heróis, mocinhas e bandidos.

Um amor em movimento!
Sob roteiro de uma vida recheada de ilusão.
Luz, câmera e...

Ao som de: “Angústia”, Secos e Molhados + “Com medo, com Pedro”, Gilberto Gil + “Pequenos olhos”, Cibelle

domingo, 6 de julho de 2008

Quinze minutos

Minhas palavras são mutantes.
Encontram-se em plena ebulição.
São incômodas. Inquietas.

Revelam segredos.
Perpetuam-se nos olhares.
Destilam a força de um coração.

É a poesia em transição.
Reforçando sua profissão de fé.
O significado de uma segunda chance nesta vida.

Longe dos círculos. Das rodas.
Teatrais. Convencionais.
Poéticas. Funcionais.
Literárias. Canalhas.

Não celebra o supérfluo.
Não se propaga no vácuo.
Não compactua com o vazio.
Não se aproveita da pobreza
deste analfabetismo letrado.
Fugindo das sem-ler-bridades.

Meu intuito, simples.
Antropofágico. Digerido.
Oceano. Profundo.
Horizonte. Irracional.
E sem rasteiras.

Eu quero, apenas.
Ser. Ler. Brindar.

A transfiguração de mais uma alma.

Ao som de: “Complexo de épico”, Tom Zé

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Projeções, devaneios e sonhos

Subverti a lógica dos ponteiros deste relógio
que insiste em adiantar-se ao meu tempo.

Enganei a contagem dos dias,
o passar dos meses,
a virada dos anos.
Eu sou meu calendário.
Eu faço o meu presente.

Troquei os dias pelas noites.
Desenhei uma lua no lugar do sol.
Pintei estrelas neste céu azul,
que projetam esses trejeitos
e imagens no meu coração.

E ele não pára de pulsar.
Numa batida cadenciada
pelas palavras sussurradas
ao cair de mais uma tarde.

E nem esse frio na barriga
me incomoda (de)mais.
Pois meus sentimentos não desistem.
Resistem. Insistem. Neste seu olhar.

É a certeza do quanto eu quero você.
Aqui do meu lado.
Compartilhando todas essas sensações.

Ao som de: “Breathe” + “To Build a Home”, The Cinematic Orchestra

terça-feira, 1 de julho de 2008

Feira do coração

Meus amores. Quixotescos.
Seus amores. Improváveis.

Eu queria mesmo é que
o nosso amor removesse.
As distâncias.
As inseguranças.
Os medos.

Decidi rasgar essas mantas
que me (en)cobrem.
A racionalidade não manda
mais em mim!

O meu coração voltou
a bater no toque do
seu sorriso.

Iluminado por aquele pôr-do-sol
que você me presenteou ontem.

Pelos sonhos que nos
uniram mais uma vez.

Hoje, sou só sentimentos...
E eles deságuam todos em você.

Ao som de: “Luzia Luluza”, Gilberto Gil + “Eu quero mesmo”, Raul Seixas

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Cheiro de liberdade

Um céu,
um sertão
e várias estrelas.

Os olhos só enxergam
o pôr-do-sol.

Um recomeço.
Para quem nunca desistiu.

Onde falta uma certeza,
renasce a esperança.

Onde cresce o amor,
se perpetua uma eternidade.

Se hoje exalo
esse cheiro de liberdade,
foi porque ontem me embriaguei
com o brilho do seu sorriso.

Ao som de: "Luar do sertão", Catulo da Paixão Cearense

domingo, 1 de junho de 2008

Cena de cinema

Nem mesmo esse tempo recheado
por um vazio no coração
é capaz de esconder
a delicadeza dos seus traços
e o brilho dos seus olhos.

Saiba que, neste instante em branco e preto,
você é capaz de emanar cores.
Arrepiar-se com uma linda canção no rádio.
E transformar esta nuvem de tristeza e solidão,
numa verdadeira cena de cinema.

Sem representações,
um verdadeiro diário de sua vida,
onde você compartilha suas alegrias
e revela seus pequenos prazeres.

Quem sabe, um dia, eu roubo
um pequeno pedaço desta cena,
tirando você para dançar.

E como a distância me impede
de presenteá-la com uma rosa,
um “xêro” e um abraço apertado,
ofereço esta singela poesia.

Ao som de: “Tudo por acaso” + “Paciência”, Lenine

sábado, 31 de maio de 2008

Sementes da esperança

Tive um sonho estrelado.
E, hoje, acordei diferente.
Quero buscar a paz através da paz.
Plantar tal idéia nessa criança
que um dia existiu dentro de nós.
Pois é onde tudo começa e renasce.

Em vez de armas, portaríamos inteligência.
Em vez de tiros, dispararíamos gentileza.
Em vez de roubos, distribuiríamos generosidade.
Em vez de mortes, assistiríamos ao renascimento...

Da esperança,
na fé.

Das igualdades,
pelas diferenças.

Do som,
através dos silêncios.

Do amor,
por um mundo novo.

Do efêmero,
pela eternidade.

Ao som de: “Drão”, Gilberto Gil + "Beraderô", Chico César

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Tempestade

Ausente. Recluso.
Fé. Ilusão.
Multidão. Solidão.
Esperança. Descrença.

Material. Espiritual.
Deus. Diabo.
Pai. Filho.
Espírito. Santo.

Homem. Mulher.
Beijo. Boca.
Solteiro. Desquitado.
Amigo. Separado.

Pão. Alimento.
Povo. Escravidão.
Dor. Perdão.
Governo. Televisão.

Alegria. Presente.
Choro. Passado.
Sorriso. Futuro.

Gentileza. Dia.
Amor. Noite.
Pensamento. Tarde.

Artigo. Sujeito.
Preposição. Predicado.

Palavras são apenas tempestades.
Verbais. Faladas.
A um sabor impronunciável.
Escritas. Redigidas.
Com letras amargas.

O que me importa
na leitura desta vida,
é o significado prático
de seus entrelaçamentos.

Eis, assim, o renascimento da poesia.

Ao som de: “Namorinho de portão”, Tom Zé + "Non, je ne regrette rien", Edith Piaf

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Testamento

Descobri que na ausência
existe uma essência.
De uma presença que
insiste em faltar.

Sou solitude,
desta porteira
de sentimentos
que tento controlar.
E não revelar.

Sou amor
nos dias sem fim.

O riso transparente,
desta alegria permeada
também pela tristeza.

A generosidade que não
desiste de compartilhar.

O aprendiz que não se
cansa em experimentar.

Ao som de: “Não me arrependo”, Caetano Veloso + “Dois barcos”, Los Hermanos

terça-feira, 22 de abril de 2008

Confessionário

O sentido da transformação
já me consumiu por completo.

O que fui ontem,
não representa o que sou hoje
e nem o que serei amanhã.

Descubro-me feito por traços e abraços.
A imperfeição perfeita no composto das linhas tortuosas.
Não há retrato que consiga traduzir o que sinto.
Talvez o movimento. Nesse leve e traz. De momentos.

Enfrento o tempo das privações,
com a mesma coragem presente na bonança
dos períodos de farturas amorosas.

Torno-me o significado das lições.
O aprendizado da renovação espiritual.
Que surge no olhar.
E insiste em enxergar esperança em dias de guerra.
De um mundo em descompasso.

Ao som de: “Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros”, Jorge Ben + “Prece Cósmica”, Secos e Molhados + “Paz Interior”, Tim Maia

domingo, 13 de abril de 2008

Por um instante

Tenho muito a contar. E pouco a negar.
Sou protagonista de uma história.
Não sinto arrependimento pelos caminhos trilhados.

Afinal, os sentimentos se rebelaram.
E anunciam a reforma agrária do coração.

Não represento a firma.
Carrego apenas meus ideais.

Guardo no peito meus míseros momentos.
O acúmulo é proporcional ao tamanho de um amor.

Meu investimento é compartilhar.
Ações. Gestos. Movimentos.

Sou a negação da verdade.
A contradição do medo.
O sorriso que esconde a tristeza.
A lágrima que lava a alma.

O carinho nem sempre correspondido.
O olhar que revela o instante.
O ouvido que alcança a harmonia.
O desejo espiritual.

A cegueira das paixões.
A escuridão no brilho.
A revelação inoportuna.
O incômodo das lembranças.
E a decepção dos amores.

O excesso necessário.
O resguardo infantil.
A explicação com sentido.
A bondade sem culpa.
O parâmetro inconveniente.

A intenção com intuito de materializar-se.
A ansiedade focada na realização.
A intensidade do samba-enredo.
A abnegação como sinônimo de evolução.
O melhor dos inimigos.
E o pior dos amigos.

Sou a humildade castigada pelo tempo.
A ingenuidade que não se importa em ser lubridiada.
A palavra que insiste em escrever.
A não-poesia.

A voz que não quer se calar.
O infinito que quer se perpetuar.

Simples. Por um instante. Apenas.

Ao som de: “You Know I'm No Good”, Amy Winehouse

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Horóscopo

Minha redenção está na praia,
pois o mar é o meu céu.

Levito entre as ondas,
curtindo uma imensa
sensação de liberdade.

O Deus Sol reflete a paz
escondida dos cariocas.
A areia é a mãe acolhedora
desse meu encontro com a natureza.

A tarde cai e os ventos revelam
as minhas origens.
Quero vestir novamente
o meu corpo,
para anunciar os ideais
de um novo tempo.

Ao som de: “Ana e o mar”, O Teatro Mágico + "Babylon by gus", Black Alien

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Um (com)passo

Sempre escolhi os caminhos mais tortuosos.
Talvez instigado por essa minha adrenalina sentimental,
que enxerga um misto de alegria e dor nos mínimos detalhes.

Flerto com as palavras.
Renego as rimas metrificadas.
Quero ser maestro de uma orquestra imaginária.

Revoluciono o compasso do meu coração.
Luto contra a esperança.
Esbarro com a felicidade na embriaguez do efêmero.
Estou a um passo da verdade.

Quero apenas curtir os segundos restantes
de um sorriso que ressurge no meu caminho.
Não temer os piores pesadelos, para
sonhar livre e viver um novo momento.

Ao som de: “O anjo mais velho”, O Teatro Mágico + "O Cristo e Oxalá", O Rappa

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bem entendido

Vou de reza forte e sal grosso
espantando os maus olhados.

Quero me cercar de energias positivas
para prosseguir no rumo da vida.

As agressões são sempre gratuitas.
Mesmo assim, insisto em oferecer
a minha outra face, em uma bandeja
com ornamentos em ouro.

Nunca fui de cozinhar raiva
ou ferver ódio nas panelas
do orgulho.

Prefiro subverter a lógica. O usual.
A dialética se torna meus punhos.
Para externar a minha verdadeira força.

Combato toda incompreensão,
através de minha fé.
Com pitadas de gentileza.
Pelo singelo ato de generosidade.

Pois faço do amor o tempero
ideal para sobreviver neste
moderno, cínico e urbano presente.

Ao som de: “De onde vem a calma”, Los Hermanos + “Acabou chorare”, Novos Baianos

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Triste alegria - II

Eu sei.
É complicado encontrar alegria
neste discurso recheado de tristeza.

Porém, mais difícil é ter coragem
para expor suas fraquezas.
Fazer disso a sua fortaleza.

Acreditar no amor.
Fugir do juízo inconsciente.
Aprender a perdoar. Fisica e espiritualmente.
Compartilhar, sem pedir nada em troca.
Inundar-se de fé.

Manter-se firme aos ideais,
mesmo que isso represente
poucas amizades. Poucos amores.
Muitas dores. E uma coleção de desamores.

Despir-se do material, quando
tudo e todos valorizam,
a cada dia, menos, o ser.

Entenda, esse é o caminho que eu escolhi.
Aceitei prontamente esta missão.
Sem titubear.

Quero percorrer o mundo,
dando o meu testemunho.
Em forma de poesia.
Sempre.
Neste nosso tempo.

Ao som de: “Geni e o Zepelim”, Chico Buarque + “Cálice”, Chico Buarque + "A pedra mais alta", O Teatro Mágico

segunda-feira, 31 de março de 2008

Simples. mente

Meu amor nunca esteve ao alcance das medidas.
Nem foi visível aos olhares permeados de ceticismo.

Ele transpira sem o calor de verão.
Ele aquece nos invernos mais rigorosos.

Ele se perpetua na acústica do silêncio.
Ele se transfigura pela dor
que entorpece a minha existência.

Eu quero a luz.
A energia de um novo tempo.
Ser, infinito.
Sem, ao menos, ter.

Presente.
Sem restrições.
Contra-indicações.
Ou codinomes.

Renascer pelo efêmero.
Não pelos ciclos. Círculos. Circos.

Simples. mente. Eu e você.

Ao som de: “Água Viva”, Raul Seixas + “Realejo”, O Teatro Mágico

quarta-feira, 26 de março de 2008

Do renascimento

Ganhei asas para voar em busca
de um novo tempo.

Onde eu possa repousar esses meus
sentimentos que não querem calar.

Descobrir um novo olhar que transforme
este espírito em desarmonia.

Materializar a esperança através do
mais simples e singelo gesto do amor.

Pronunciar as palavras que adormecem
neste coração petrificado.

Respirar os ares da renovação que se anuncia,
mas insiste em retardar os seus passos.

Vencer o medo da negação
e insistir nos caminhos.

Pois minha alegria renasce neste período
de tristeza, melancolia e incompreensão.

Meu peito aflora ao sentir as vibrações
sonoras de uma velha nova melodia.

O raciocínio, porém, insiste em não acompanhar os meus dedos.
Componho sem ritmo, sem rima e sem devoção.
Vou preenchendo os papéis instintivamente.
Mesmo sendo um tanto quanto racional.

Minha alma se transfigura.
Sigo em romaria com a fé em novos horizontes.
Descanso em paz.
Adormeço livre para celebrar mais um dia.
E um novo movimento.
E uma nova poesia que há de surgir.

Ao som de: “Lambada de serpente”, Djavan + “Pé da roseira”, Gilberto Gil

domingo, 23 de março de 2008

Quando a admiração se esvai...

Não me importa a previsão do tempo,
quando faltam as palavras.

É preciso dizer tudo aquilo que
você nunca quis escutar.

Minha língua quer finalmente
se anunciar. Pronunciar-se.

Seus olhos já não
me revelam nada.

Seu charme não desmonta
mais o meu corpo.

Seu canto de sereia não
enfeitiça mais a minha alma.

Meus ouvidos se cansaram
das velhas desculpas,
dos recorrentes medos.

Sou presente para construção do futuro
e história para o nosso passado.

Há espaço a ser preenchido.
Compartilhado.

E um coração a ser amado.
Diariamente...

Ao som de: “Quando você chegar”, Novos Baianos + “Cadê tem suín-?”, Los Hermanos

segunda-feira, 17 de março de 2008

Voltar a sorrir

Vou carregando um coração despedaçado.
Muitas vezes, com os olhos marejados.
Sob o efeito de um corpo embriagado.
E um espírito em busca de evolução.

Mesmo assim, não perco esta capacidade de sorrir.
Enfrento as dores da vida moderna,
as injustiças dos olhares,
e os juízos dos filósofos.

Sigo caminhando como um guerreiro São Jorge,
guiado pelos dizeres do Profeta Gentileza,
e munido pelo desprendimento material dos franciscanos.

Pois um amor não sobrevive
apenas pelo desejo dos corpos.
Ele se perpetua no
entrelaçamento das almas.

Ao som de: “Pois é”, Los Hermanos + “Retrato em branco e preto”, Elis Regina e Tom Jobim

sexta-feira, 7 de março de 2008

Música no rádio, amor no coração

Foi tão fácil dizer te amo.
Viver um sonho acordado.
Sorrir, mesmo sem graça.
Caminhar, sem encontrar,
ao menos, um chão.
Praticar o desapego
pelas tentações materiais.

Difícil é renunciar aos espelhos.
Aos reflexos internos que
vislumbram os mínimos detalhes.
Visíveis até para esta cegueira
urbana e contemporânea.

É preciso retomar os caminhos.
Ser generoso consigo.
Pois a fé iluminará o último momento,
quando a noite e o dia se tornam
um único e singelo tempo.

Ao som de: “Luzia Luluza”, Gilberto Gil

quarta-feira, 5 de março de 2008

Conselhos e sussurros

Tenta dormir um pouco.

Escuta o que o silêncio tem para dizer.
E acalma esse coração.
Pode ser que o tempo cure as tristezas.
Talvez os dias cicatrizem as feridas.

Fecha os olhos.

Lembra daquelas tardes quando nada ao seu redor importava?
Das horas admirando os mínimos traços daquele rosto.
O gosto peculiar daquela boca.
Ou os delírios causados pela quentura delicada das mãos.

Abra a mente, a percepção da alma.

Afaste-se dessa suposta melancolia.
Não se faça de vítima das desilusões.

Rasgue esse passado de boas lembranças.
Revele, de vez, essa coragem que vem da essência.
E prepare-se para o que há de vir.

Mesmo que seja
para o futuro
lhe reservar
novas alegrias,
novos sorrisos,
novas dores,
novos (des)amores,
e uma nova solidão.

Ao som de: “Ele falava nisso todo dia” + “Coragem pra suportar”, Gilberto Gil

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Tradução dos reflexos

Talvez não haja espelho no mundo
capaz de refletir esta ebulição que
se manifesta internamente.

Pois é preciso coragem
para enxergar os erros
nas aparentes qualidades.

E lembrar que o movimento necessita
de seguidos e ritmados passos,
mesmo diante das inevitáveis rasteiras.

Pois é preciso persistência
para enfrentar os medos
de peito aberto e ouvidos atentos.

E reconhecer as distâncias
que sempre nos levam aos
habituáveis e cotidianos abismos.

Quero assim transfigurar
os meus olhares.

Marcar o meu corpo com
os símbolos das minhas
crenças e proteções.

Tornar a minha essência
uma certeza dessa existência
balzaquiana em desequilíbrio.

Quando encontrar os rumos da fé,
sei que os meus sentimentos
não vão se esconder jamais.

Ao som de: “Pega a voga, cabeludo”, Gilberto Gil

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Olhares e sentimentos

(uma parceira de Mônica Ottoni e Luis Rocha)

Meu olhar não vislumbra a inércia deste presente.
Ele traduz os sonhos do passado.
E a utopia das realizações no futuro.

Enxerga verdades e desaprova mentiras.
Não se cala diante das injustiças.
Nem desmorona com dissabores.

Meu olhar oceana, vela (ainda que de longe),
cintila, se perde e se encontra...
Vai de encontro aos que sentem que o tempo não existe.
Aos que renunciam às palavras, aos contornos...
Contempla espaços e esperanças - presságios de ternura.

Ele tem a capacidade de transformar derrotas em grandes vitórias.
Busca alento na generosidade do sentimento alheio.
E revela a humildade no coração dos sinceros.

Meus sentimentos são águas a invadirem o curso de rios distantes,
fazendo-me ver a sutileza dos detalhes.

Eles deságuam num mar de miragens e desespero sensato,
numa penumbra mágica, que desenha imagens de sombras:
E meu olhar entende...

Mônica, ao som de: “Resposta ao tempo”, Nana Caymmi
Luis, ao som de: “O seu olhar”, Arnaldo Antunes + “Aos nossos filhos”, Ivan Lins

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Carne, osso e coração

Há dias em que a poesia
reside calada em mim.

Como se buscasse o
atrevimento necessário
para o movimento
desta vida.

Resguardando seus versos
para um novo tempo
que há de vir.

Derramando as últimas
gotas de lágrima
dessa tristeza
em decomposição.

Sem medo de ter
fé na esperança.

Declamando silenciosamente
os erros e as crenças
em seus valores.

Com intuito de revelar-se
ao mundo.

Cansada de apenas admirar
os novos caminhos.

E, finalmente, com coragem
de colocar os pés na estrada
para caminhar neste fluxo
rumo ao infinito.

Pois só assim serei novamente
o dono de mim.

Ao som de: “O sol nascerá”, Cartola + “O patrão nosso de cada dia”, Secos e Molhados

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sete vidas do amor

Hoje, quando se silenciam os batuques
e a alegria boêmia e efêmera do carnaval,
vejo que os deuses do amor reservaram
para mim as sete vidas de um gato.

Em cada uma delas,
deixei um generoso pedaço
de meu coração, de minha alma,
como se o destino promovesse
uma espécie de reforma agrária.

Alguns amores sobreviveram
apenas a troca de olhares,
os beijos e as carícias,
numa deliciosa e interminável
contagem de horas.

Outros duraram semanas.
Os profundos e marcantes foram
reservados ao período de um ou mais anos.

Restaram apenas histórias ricas,
guardadas seguramente em um
álbum de retratos envelhecido
e em preto e branco ou
a um museu de boas lembranças.

Já gastei seis vidas das sete de direito.
Embarco na sétima para regurgitar
os amores esvaídos, filosofando
ao som de uma arrastada balada da solidão.

Talvez nesta última e derradeira tenha-me
sobrado apenas estes versos tristes e amargos.
E uma tremenda sensação de liberdade
para escrever tudo o que sinto
neste exato momento.

O que me importa é o fluxo de sentimentos
criados, compartilhados e transformados
ao longo desses (balzaqui)anos.

Mesmo que seja para enfrentar
a visão turva, obtusa e confusa
do que seja amizade pura e verdadeira.

Ou ao jogo mal-fadado do
bem-me-quer e mal-me-quer
da paixão.

O medo de tornar o companheirismo
em conveniência.

Pelo uni-duni-tê das carências,
preservação de orgulhos,
ou cumplicidade como sinônimo de tempo perdido.

Não se engane, pois esta lira
nunca vai pertencer a um acerto
de contas do coração.
Ou ao rancor de mais um desiludido.

Ela é apenas a revelação da
singela, sincera e humilde busca
pela redenção do amor.

Ao som de: “Conselho”, Almir Guineto + “Happy End”, Tom Zé + "Love Is a Losing Game", Amy Winehouse

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Poema de quatro mãos - Manifesto pela Gentileza

(uma parceira de Mônica Ottoni e Luis Rocha)

Gentileza não se compra nos supermercados.
Não se (re)produz industrialmente.
Não se prostitui pelas esquinas.

Gentileza é incondicional, leve e pura.
É um sentimento que aflora no ventre materno.
É seiva que escorre pelos (a)braços de pai e mãe.
E vai desaguar pelo mundo, através da multiplicação de seus filhos.

Gentileza não precisa de tradutor para se comunicar.
Nem de dicionário para se entender.
Seu significado é o mesmo,
seja nas planícies de Brasília
ou nas praias cariocas.

Gentileza desafia tabus e conexões,
celebra a força da partilha,
duplica as mãos.

Gentileza entrelaça sonhos e palavras.
Faz brotar esperança.
É uma ponte
que leva e traz ao
(com)partilhar ações.
Doações.

Gentileza é esquecer uma dor
enxugando uma lágrima.
É ensinar para aprender.
É um gesto mágico que alcança,
que diminui distâncias, discrepâncias.

Mônica, ao som de: "Gentileza", Marisa Monte
Luis, ao som de: "Redescobrir", Gonzaguinha

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Naquela esquina

Foi ontem que eu dobrei aquela esquina.
E acabei encontrando uma nova rua.

Ao primeiro passo, nada seria como antes.
Os prazeres.
Os medos.
As alegrias.
As inseguranças.

De tudo, só restou mesmo
essa essência que vem da alma.

Por isso me encharco de boêmia.
E do sorriso largo e acolhedor dos amigos.

O futuro pode esperar.

Ao som de: “Rehab”, Amy Winehouse + “Menina, amanhã de manhã (O sonho voltou)”, Tom Zé

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Amargo dos dias

Meu olhar mudou.

Tenho me deparado com
novos e muitos horizontes.

Porém, minha visão
se apaixona
cada vez menos
por esta realidade.

Uma espécie de reencontro
já em tom de despedida.

Meu tempo parece ser outro,
vagando em busca de alento.

Estou invisível diante
desta existência.

Estou desconexo deste apego
pelas atuais verdades.

É utópico e pretensioso
querer ser apenas uma causa
das conseqüências deste
mundo que nos cerca.

Preciso de uma reinvenção
do presente que garanta um
sustento de sobrevivência.

Definitivamente, a poesia me curou.
Das ausências.
Das distâncias.
Dos desamores.

Apesar do gosto amargo,
deste ar sem cheiro e
da sensação de enjôo,
aprendi com o silêncio e
caminho confiante pelos
campos da solidão...

Pois esse sentimento
não pede nunca licença
para se manifestar.

Ao som de: “Alucinação” e “Fotografia 3x4”, Belchior + “Paula e Bebeto” e “Mãe”, Gal Costa

domingo, 20 de janeiro de 2008

O ambiente meio

A vontade é de tornar
a mata virgem
a minha (na)morada.

Onde eu possa sentir
novamente o cheiro
de terra molhada.

Repartir da generosidade
dos ingênuos.

Recuperar o olhar singelo
que se emociona,
mas se apaga
num simples piscar.

Alimentar-me da pureza
da natureza.

Através do refresco mergulho
em mar quente e salgado.

Através da revigoração de
um banho de cachoeira gelada.

Onde eu possa redescobrir
a passagem do tempo.
E os prazeres do amor.
E as lições da dor e da tristeza.
E o valor de minha escrita.
E a longevidade da fé.

Eu quero mesmo é expelir
esse ar carregado, viciado,
dissimulado e sem esperanças
das cidades grandes.

Ficar longe das agonias e
das inquietações que
se tornam habitualmente
sinônimo de desafio,
de adrenalina.

Distante do acúmulo
como legado de uma
breve história.

Pois perdemos nossas referências,
nossos valores originais.

Talvez, um dia, a poesia
nos iluminará em
busca da redenção.

Certo é que o movimento
nunca pode parar, seja em
qual tempo ele for.

Ao som de: “Tristeza do Jeca”, Angelino de Oliveira + “Anunciação”, Alceu Valença + “Preto Velho”, Secos e Molhados + “Pastorinhas”, Noel Rosa e Braguinha

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma despedida

Essa lua que sobe
imponente ao céu.

Acompanhada do pipocar das estrelas,
que surgem ao meu olhar,
uma após a outra.

E os pássaros que ensaiam
uma espécie de sinfonia de despedida,
tendo o canto das cigarras como maestro.

É o apagar das luzes,
ganhando novas cores com
a chegada do entardecer.

Mas, aqui dentro,
essa minha intensidade
também se transforma.

Como se o meu copo
nunca esvaziasse.

Como se eu me tornasse
a conseqüência das
suas causas.

Como se a minha vida
não durasse mais
que 24 horas.

Como se hoje fosse
o nosso último beijo.

Como se agora esses
fossem os meus últimos
e reveladores versos...

Ao som de: “Mestre Vitalino”, Quinteto Violado + “Se o caso é chorar”, Tom Zé + “Revelação”, Fagner

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Meu lírico-eu

Quando deito
para meditar
no quarto escuro,
ao som do silêncio,
e na ausência do material,
eu penso no que sou,
penso no eu que sou,
quem sou eu,
sou eu quem,
para que eu sou,
sou eu para que,
quando sou eu,
eu quando sou,
quanto eu sou
e sou eu quanto.

No presente
deste agora
passado,
mas inevitável futuro,
posso dizer que
sou um aprendiz
de poeta.

Talvez o último romântico.
Quem sabe um kamikaze do amor.
Ou um sonhador errante,
movido pelas generosas pitadas
de arte, de música e de literatura.

No final deste breve e inquieto
pensamento, desejo mudar
esse mundo, por menor
que seja o movimento...

Ao som de: “Beradêro”, Chico César + “Filha da Chiquita Bacana”, Caetano Veloso + “Rockixe”, Raul Seixas

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Vamos de poesias, meus amigos?

Judith, em seu mundo todo particular,
enxerga a transformação
do menino em homem.

Ana, com a sua permanente
emanação de felicidade,
incentiva a prática, mas alerta para
a tristeza recorrente das toadas.

Rocha, com seu olhar que desvenda
o mais misterioso dos espíritos,
congratula a nudez de mais um.

Flora exulta os mais alegres
e, amigavelmente, diz que queria
ter escrito alguns deles.

Brida adora o ecletismo
dos sons inspiradores
da escrita.

Evilásio revela marotamente
o uso indiscriminado
dos versos para conquistar
mais e novos corações.

Marcus aponta uma produção prolífica
e que vai levar mais de uma semana
para ler tudo, até que mais
30 serão publicados!

Júlio César promete
se tornar um leitor assíduo.

Armando se empolga e
quer que o mundo inteiro
me conheça em forma de poesia.

Zeh Gustavo me cobra
o chopp sempre prometido
e nunca bebido!

Ludmilla vê doçuras nas
minhas tristes palavras.

Sabrina pede permissão para
“legendar” suas fotos
com o meu “oceano”.

Glauco me encabula,
afirmando que
tudo que faço,
faço bem feito!

Adriana, primeiro, fica sem palavras e
se espanta diante de um (suposto)
talento até então desconhecido.

Camila filosofa sobre a prática,
enquanto desenha estrelinhas
no papel que insiste em
não ficar em branco.

Beto reafirma a amizade valiosa,
faz uma, segundo ele, “prosa besta”
e diz que quem domina
as palavras sou eu.

Aninha pergunta,
diretamente de Recife,
por que não publico um livro.

Teresa entra por acaso
e percebe a sinceridade
das palavras.

Valéria sorri manso
e vai decifrando sabiamente
as entrelinhas por aqui publicadas.

E eu?
Neste momento, admiro o céu.

Pois eu vejo que a poesia nos torna,
a cada dia, num vôo coletivo de gaivotas,
como se formássemos uma romaria
em busca da fé e do amor neste mundo
incompreendido e de solidão.

Se cada um sair daqui disposto
a abrir o livro de suas almas,
minha missão terá sido cumprida.

Assim, deito no silêncio do quarto
escuro e vou dormir em paz
pela paz de vocês.

Ao som de: “Pedaço de mim”, Chico Buarque

domingo, 13 de janeiro de 2008

Há um tempo...

Em equilíbrio.
No qual você descobre...

Que os velhos serão
sempre novos amigos.

Que os relacionamentos
perdidos e partidos
trazem valiosas lições.

Que a sinceridade
sobrevive mesmo diante
deste mundo material, seco
e de mentiras.

Que a paz necessita
da dor e da tristeza
para ser alcançada.

Que a delicadeza
da verdade é capaz
de inundar o mais
bravo dos corações.

Que o olhar
precisa da cegueira
para enxergar a riqueza
das cores.

Que cada lágrima
despencando dos meus olhos
representa a nudez desta fortaleza
existente nas minhas fraquezas.

E que esta alma embriagada
procura sua ressaca no presente.

Pena que meu amor
ainda não tenha encontrado
seu devido espaço neste tempo.

Mas os caminhos continuam livres
para que um dia, uma tarde ou uma noite,
esta fase possa, de novo, renascer.

Com ingenuidade.
Com generosidade.
Com cumplicidade.
Com fé.

Ao som de: “Cachorro-urubu”, Raul Seixas + “Drão”, Gilberto Gil + “A casca de banana que eu pisei”, Novos Baianos

Por onde anda, poesia?

Por uma semana,
o bloquinho ficou em branco,
a tinta da caneta secou,
meu coração se calou e
você simplesmente desapareceu!

Talvez, reflexo da retomada
destes dias robóticos e sistemáticos,
tão presentes na vida de um
escrevedor profissional.

Mas, assim como os apaixonados,
a poesia não se intimida,
nem mesmo quando há
“uma pedra no meio do caminho”.

Engraçado que neste domingo
silencioso, cinza e calorento,
você resolva novamente se manifestar.

Seja bem-vinda, companheira!
Saiba que esta casa estará sempre
aberta para a sua manifestação.

Escolha o seu tempo.

Ao som de: “Frevo”, Tom Zé + “Atrás do trio elétrico”, Caetano Veloso + “Back in Bahia”, Gilberto Gil

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

No movimento pelo conhecimento

Um novo ano chegou,
anunciam os relógios e os calendários
em contagem regressiva.

É o tempo coletivo do êxtase efêmero,
da repentina tolerância,
da bondade por tanto esquecida,
da necessidade em desespero,
da carência em falta no estoque,
da falsa alegria e
do recolhimento da hipocrisia.

Não esqueçamos a enxurrada
de pedidos aos céus
e promessas na terra.

É a tal da prometida paz no asfalto e no abstrato.
É a bendita da saúde pública e fugaz.
É o escorregadio do amor duro, enquanto molhado.
É o acúmulo do material inalcançável.
É a (errante) resistência do ambiente (ecológico) no meio.

Diante desta tempestade passageira
de ilusões e esperanças,
eu abro meu peito
e levito minha alma
em busca de um simples e singelo
desejo: de conhecer...

A dor que cicatriza.
O choro que enobrece.
O sorriso que embriaga.
O carinho que entorpece.
A palavra que emburrece.
A burrice que ensina.
A distância que aproxima.
E as diferenças que igualam.

Eu quero mesmo novos mundos
dentro do nosso mundo.

Eu quero mesmo novos tempos
dentro do nosso tempo.

Eu quero mesmo novas paixões
dentro da nossa paixão...

Eu quero mesmo nenhum
dentro de todos.

Como se vivêssemos
em um eterno déjà-vu.

Ao som de: "Atrás da porta" (Chico Buarque), Elis Regina + "Dor e dor" e "Senhor Cidadão", Tom Zé + "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro", Wander Wildner

domingo, 6 de janeiro de 2008

Aprendizado

Aprendi.
Levou um tempo,
mas eu aprendi que existe...

Coragem no medo.
Criança no adulto.
Regra na exceção.
Reforma agrária no coração.

Meu cheiro sem perfume.
Seu olhar no meu olhar.
Qualidades nos meus defeitos.
Divergências sobre a saudade.

Beleza na tristeza.
Amor no desamor.
Inocência e delicadeza no concreto.
Emocional no racional.
Amizade na distância.

Brilho no escuro.
Silêncio no som.
Sol na chuva.
Divino na matéria.

Riqueza na pobreza.
Ausência na abundância.
Apego pelo desapego.
E uma explosão de poesia dentro de mim!

Ao som de: “Romaria”, Renato Teixeira + “Tocando em frente”, Almir Sater e Renato Teixeira

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Leitura de mim - II

Abro as cortinas da visão!
Grito através das janelas da alma!
Destranco as portas do coração!
Derrubo todos os muros do pensamento!
É o anúncio de novos tempos.

Quando empunho meu lápis
neste pequeno pedaço de papel,
eu revelo toda a segurança
que estava guardada há
tanto tempo dentro de mim.

Vou me despindo
de todo o orgulho,
das minhas vergonhas,
dos meus fantasmas,
das minhas incertezas,
num fluxo intenso e inesgotável,
como uma romaria na busca
pelo indiscutível poder
da palavra escrita.

Olho para frente e
não vejo mais recusa.
Não há mais desamor.
Não há mais dor.
Não há mais solidão.

A poesia se entranha em meu corpo
como a melhor companheira
das noites de carência.

Transcendo a experiência de viver
neste presente tão cheio
de ausência e lembranças.

A cada minuto, construo e
desconstruo a minha essência.

E vou divagando calmamente sobre
os porquês de nossa existência
marcada pelas aparências
e pelos desencontros.

Humilde, sinto o cheiro de vida
trazido pela brisa refrescante
do mar de Ipanema, da Lagoa.

Quero caminhar bem distante
da miopia do racional,
para me tornar, de vez,
cúmplice da senhora simplicidade.

Sou hoje.
Sou presente.
Transformo-me em um mundo inteiro.

O futuro e o passado
eu deixo para os livros
sussurrarem aos seus ouvidos.

Sonho acordado.
Com os pés descalços
sobre este chão quente
de janeiro.

Estou novamente nu.
De espírito.
De coração.

Sem rancores.
Sem planos.
Sem ilusões.

Pois a nossa história
nunca foi tão real
como ela se torna
a partir deste momento
que você lê estes versos.

Ao som de: “O meu guri”, Chico Buarque + “Deixa estar”, MPB-4 + “Cara valente”, Marcelo Camelo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Sou fraco, sou forte

Eu ando na corda bamba.
Alegria e tristeza.
Medo e coragem.
Desilusão e esperança.
Fé e descrença.
Noite e dia.

Eu atravesso no sinal verde.
E aprendi, finalmente, como
desprender meu espírito deste corpo
em contagem regressiva
da decomposição.

Eu choro para sorrir e
acordo para sonhar.
Meu desafio está no tempo presente.
Sabendo que a solidão
está guardada para o futuro e
a esperança no passado.

Eu desanuvio em prosa e verso.
Deixando meu legado intelectual entrar
em sintonia, se perpetuar entre vocês.

Eu ando carregado.
Meus sinais de fraqueza são
aparentes e transparentes.
Mas são eles que me tornam,
a cada momento,
deste movimento,
mais forte.

E emocional.
E provocador.
Para o mundo.

Ao som de: “Mãe (Mãe Solteira)”, Tom Zé + "Down em mim", Barão Vermelho

A semântica da lágrima

Quanta dor carrega uma lágrima?
Pois eu vejo poesia na sua essência
e cadência no seu caminhar.

Sua produção está diretamente ligada ao sofrimento?
Pois ela é a tristeza efêmera
e a magia do equilíbrio.

Quantas pessoas choram neste exato momento?
Pois ela é a redenção da fé
e o descarrego dos sonhadores.

À primeira vista, racional, ela é apenas
um pequeno desvio de água
pela face dos desiludidos.

Porém, seu significado guarda
um tempo de coração ferido e perdido.

O sujeito que não chora
provavelmente desconhece o amor,
que se esconde silenciosamente dentro de sua alma.

Afinal, quando ele vai aflorar?

Por onde andam os seus sinais?

Seria a lágrima o grito de liberdade do coração?
Pois ando em busca de uma explicação sobre
o marejo súbito e diário dos meus olhos...

Ao som de: “Meu glorioso São Cristóvão”, Jorge Ben e Gilberto Gil + “Toninho Cerezo”, Pepeu Gomes
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