Hoje, quando se silenciam os batuques
e a alegria boêmia e efêmera do carnaval,
vejo que os deuses do amor reservaram
para mim as sete vidas de um gato.
Em cada uma delas,
deixei um generoso pedaço
de meu coração, de minha alma,
como se o destino promovesse
uma espécie de reforma agrária.
Alguns amores sobreviveram
apenas a troca de olhares,
os beijos e as carícias,
numa deliciosa e interminável
contagem de horas.
Outros duraram semanas.
Os profundos e marcantes foram
reservados ao período de um ou mais anos.
Restaram apenas histórias ricas,
guardadas seguramente em um
álbum de retratos envelhecido
e em preto e branco ou
a um museu de boas lembranças.
Já gastei seis vidas das sete de direito.
Embarco na sétima para regurgitar
os amores esvaídos, filosofando
ao som de uma arrastada balada da solidão.
Talvez nesta última e derradeira tenha-me
sobrado apenas estes versos tristes e amargos.
E uma tremenda sensação de liberdade
para escrever tudo o que sinto
neste exato momento.
O que me importa é o fluxo de sentimentos
criados, compartilhados e transformados
ao longo desses (balzaqui)anos.
Mesmo que seja para enfrentar
a visão turva, obtusa e confusa
do que seja amizade pura e verdadeira.
Ou ao jogo mal-fadado do
bem-me-quer e mal-me-quer
da paixão.
O medo de tornar o companheirismo
em conveniência.
Pelo uni-duni-tê das carências,
preservação de orgulhos,
ou cumplicidade como sinônimo de tempo perdido.
Não se engane, pois esta lira
nunca vai pertencer a um acerto
de contas do coração.
Ou ao rancor de mais um desiludido.
Ela é apenas a revelação da
singela, sincera e humilde busca
pela redenção do amor.
Ao som de: “Conselho”, Almir Guineto + “Happy End”, Tom Zé + "Love Is a Losing Game", Amy Winehouse
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