quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Poema de quatro mãos - Manifesto pela Gentileza

(uma parceira de Mônica Ottoni e Luis Rocha)

Gentileza não se compra nos supermercados.
Não se (re)produz industrialmente.
Não se prostitui pelas esquinas.

Gentileza é incondicional, leve e pura.
É um sentimento que aflora no ventre materno.
É seiva que escorre pelos (a)braços de pai e mãe.
E vai desaguar pelo mundo, através da multiplicação de seus filhos.

Gentileza não precisa de tradutor para se comunicar.
Nem de dicionário para se entender.
Seu significado é o mesmo,
seja nas planícies de Brasília
ou nas praias cariocas.

Gentileza desafia tabus e conexões,
celebra a força da partilha,
duplica as mãos.

Gentileza entrelaça sonhos e palavras.
Faz brotar esperança.
É uma ponte
que leva e traz ao
(com)partilhar ações.
Doações.

Gentileza é esquecer uma dor
enxugando uma lágrima.
É ensinar para aprender.
É um gesto mágico que alcança,
que diminui distâncias, discrepâncias.

Mônica, ao som de: "Gentileza", Marisa Monte
Luis, ao som de: "Redescobrir", Gonzaguinha

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Naquela esquina

Foi ontem que eu dobrei aquela esquina.
E acabei encontrando uma nova rua.

Ao primeiro passo, nada seria como antes.
Os prazeres.
Os medos.
As alegrias.
As inseguranças.

De tudo, só restou mesmo
essa essência que vem da alma.

Por isso me encharco de boêmia.
E do sorriso largo e acolhedor dos amigos.

O futuro pode esperar.

Ao som de: “Rehab”, Amy Winehouse + “Menina, amanhã de manhã (O sonho voltou)”, Tom Zé

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Amargo dos dias

Meu olhar mudou.

Tenho me deparado com
novos e muitos horizontes.

Porém, minha visão
se apaixona
cada vez menos
por esta realidade.

Uma espécie de reencontro
já em tom de despedida.

Meu tempo parece ser outro,
vagando em busca de alento.

Estou invisível diante
desta existência.

Estou desconexo deste apego
pelas atuais verdades.

É utópico e pretensioso
querer ser apenas uma causa
das conseqüências deste
mundo que nos cerca.

Preciso de uma reinvenção
do presente que garanta um
sustento de sobrevivência.

Definitivamente, a poesia me curou.
Das ausências.
Das distâncias.
Dos desamores.

Apesar do gosto amargo,
deste ar sem cheiro e
da sensação de enjôo,
aprendi com o silêncio e
caminho confiante pelos
campos da solidão...

Pois esse sentimento
não pede nunca licença
para se manifestar.

Ao som de: “Alucinação” e “Fotografia 3x4”, Belchior + “Paula e Bebeto” e “Mãe”, Gal Costa

domingo, 20 de janeiro de 2008

O ambiente meio

A vontade é de tornar
a mata virgem
a minha (na)morada.

Onde eu possa sentir
novamente o cheiro
de terra molhada.

Repartir da generosidade
dos ingênuos.

Recuperar o olhar singelo
que se emociona,
mas se apaga
num simples piscar.

Alimentar-me da pureza
da natureza.

Através do refresco mergulho
em mar quente e salgado.

Através da revigoração de
um banho de cachoeira gelada.

Onde eu possa redescobrir
a passagem do tempo.
E os prazeres do amor.
E as lições da dor e da tristeza.
E o valor de minha escrita.
E a longevidade da fé.

Eu quero mesmo é expelir
esse ar carregado, viciado,
dissimulado e sem esperanças
das cidades grandes.

Ficar longe das agonias e
das inquietações que
se tornam habitualmente
sinônimo de desafio,
de adrenalina.

Distante do acúmulo
como legado de uma
breve história.

Pois perdemos nossas referências,
nossos valores originais.

Talvez, um dia, a poesia
nos iluminará em
busca da redenção.

Certo é que o movimento
nunca pode parar, seja em
qual tempo ele for.

Ao som de: “Tristeza do Jeca”, Angelino de Oliveira + “Anunciação”, Alceu Valença + “Preto Velho”, Secos e Molhados + “Pastorinhas”, Noel Rosa e Braguinha

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Uma despedida

Essa lua que sobe
imponente ao céu.

Acompanhada do pipocar das estrelas,
que surgem ao meu olhar,
uma após a outra.

E os pássaros que ensaiam
uma espécie de sinfonia de despedida,
tendo o canto das cigarras como maestro.

É o apagar das luzes,
ganhando novas cores com
a chegada do entardecer.

Mas, aqui dentro,
essa minha intensidade
também se transforma.

Como se o meu copo
nunca esvaziasse.

Como se eu me tornasse
a conseqüência das
suas causas.

Como se a minha vida
não durasse mais
que 24 horas.

Como se hoje fosse
o nosso último beijo.

Como se agora esses
fossem os meus últimos
e reveladores versos...

Ao som de: “Mestre Vitalino”, Quinteto Violado + “Se o caso é chorar”, Tom Zé + “Revelação”, Fagner

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Meu lírico-eu

Quando deito
para meditar
no quarto escuro,
ao som do silêncio,
e na ausência do material,
eu penso no que sou,
penso no eu que sou,
quem sou eu,
sou eu quem,
para que eu sou,
sou eu para que,
quando sou eu,
eu quando sou,
quanto eu sou
e sou eu quanto.

No presente
deste agora
passado,
mas inevitável futuro,
posso dizer que
sou um aprendiz
de poeta.

Talvez o último romântico.
Quem sabe um kamikaze do amor.
Ou um sonhador errante,
movido pelas generosas pitadas
de arte, de música e de literatura.

No final deste breve e inquieto
pensamento, desejo mudar
esse mundo, por menor
que seja o movimento...

Ao som de: “Beradêro”, Chico César + “Filha da Chiquita Bacana”, Caetano Veloso + “Rockixe”, Raul Seixas

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Vamos de poesias, meus amigos?

Judith, em seu mundo todo particular,
enxerga a transformação
do menino em homem.

Ana, com a sua permanente
emanação de felicidade,
incentiva a prática, mas alerta para
a tristeza recorrente das toadas.

Rocha, com seu olhar que desvenda
o mais misterioso dos espíritos,
congratula a nudez de mais um.

Flora exulta os mais alegres
e, amigavelmente, diz que queria
ter escrito alguns deles.

Brida adora o ecletismo
dos sons inspiradores
da escrita.

Evilásio revela marotamente
o uso indiscriminado
dos versos para conquistar
mais e novos corações.

Marcus aponta uma produção prolífica
e que vai levar mais de uma semana
para ler tudo, até que mais
30 serão publicados!

Júlio César promete
se tornar um leitor assíduo.

Armando se empolga e
quer que o mundo inteiro
me conheça em forma de poesia.

Zeh Gustavo me cobra
o chopp sempre prometido
e nunca bebido!

Ludmilla vê doçuras nas
minhas tristes palavras.

Sabrina pede permissão para
“legendar” suas fotos
com o meu “oceano”.

Glauco me encabula,
afirmando que
tudo que faço,
faço bem feito!

Adriana, primeiro, fica sem palavras e
se espanta diante de um (suposto)
talento até então desconhecido.

Camila filosofa sobre a prática,
enquanto desenha estrelinhas
no papel que insiste em
não ficar em branco.

Beto reafirma a amizade valiosa,
faz uma, segundo ele, “prosa besta”
e diz que quem domina
as palavras sou eu.

Aninha pergunta,
diretamente de Recife,
por que não publico um livro.

Teresa entra por acaso
e percebe a sinceridade
das palavras.

Valéria sorri manso
e vai decifrando sabiamente
as entrelinhas por aqui publicadas.

E eu?
Neste momento, admiro o céu.

Pois eu vejo que a poesia nos torna,
a cada dia, num vôo coletivo de gaivotas,
como se formássemos uma romaria
em busca da fé e do amor neste mundo
incompreendido e de solidão.

Se cada um sair daqui disposto
a abrir o livro de suas almas,
minha missão terá sido cumprida.

Assim, deito no silêncio do quarto
escuro e vou dormir em paz
pela paz de vocês.

Ao som de: “Pedaço de mim”, Chico Buarque

domingo, 13 de janeiro de 2008

Há um tempo...

Em equilíbrio.
No qual você descobre...

Que os velhos serão
sempre novos amigos.

Que os relacionamentos
perdidos e partidos
trazem valiosas lições.

Que a sinceridade
sobrevive mesmo diante
deste mundo material, seco
e de mentiras.

Que a paz necessita
da dor e da tristeza
para ser alcançada.

Que a delicadeza
da verdade é capaz
de inundar o mais
bravo dos corações.

Que o olhar
precisa da cegueira
para enxergar a riqueza
das cores.

Que cada lágrima
despencando dos meus olhos
representa a nudez desta fortaleza
existente nas minhas fraquezas.

E que esta alma embriagada
procura sua ressaca no presente.

Pena que meu amor
ainda não tenha encontrado
seu devido espaço neste tempo.

Mas os caminhos continuam livres
para que um dia, uma tarde ou uma noite,
esta fase possa, de novo, renascer.

Com ingenuidade.
Com generosidade.
Com cumplicidade.
Com fé.

Ao som de: “Cachorro-urubu”, Raul Seixas + “Drão”, Gilberto Gil + “A casca de banana que eu pisei”, Novos Baianos

Por onde anda, poesia?

Por uma semana,
o bloquinho ficou em branco,
a tinta da caneta secou,
meu coração se calou e
você simplesmente desapareceu!

Talvez, reflexo da retomada
destes dias robóticos e sistemáticos,
tão presentes na vida de um
escrevedor profissional.

Mas, assim como os apaixonados,
a poesia não se intimida,
nem mesmo quando há
“uma pedra no meio do caminho”.

Engraçado que neste domingo
silencioso, cinza e calorento,
você resolva novamente se manifestar.

Seja bem-vinda, companheira!
Saiba que esta casa estará sempre
aberta para a sua manifestação.

Escolha o seu tempo.

Ao som de: “Frevo”, Tom Zé + “Atrás do trio elétrico”, Caetano Veloso + “Back in Bahia”, Gilberto Gil

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

No movimento pelo conhecimento

Um novo ano chegou,
anunciam os relógios e os calendários
em contagem regressiva.

É o tempo coletivo do êxtase efêmero,
da repentina tolerância,
da bondade por tanto esquecida,
da necessidade em desespero,
da carência em falta no estoque,
da falsa alegria e
do recolhimento da hipocrisia.

Não esqueçamos a enxurrada
de pedidos aos céus
e promessas na terra.

É a tal da prometida paz no asfalto e no abstrato.
É a bendita da saúde pública e fugaz.
É o escorregadio do amor duro, enquanto molhado.
É o acúmulo do material inalcançável.
É a (errante) resistência do ambiente (ecológico) no meio.

Diante desta tempestade passageira
de ilusões e esperanças,
eu abro meu peito
e levito minha alma
em busca de um simples e singelo
desejo: de conhecer...

A dor que cicatriza.
O choro que enobrece.
O sorriso que embriaga.
O carinho que entorpece.
A palavra que emburrece.
A burrice que ensina.
A distância que aproxima.
E as diferenças que igualam.

Eu quero mesmo novos mundos
dentro do nosso mundo.

Eu quero mesmo novos tempos
dentro do nosso tempo.

Eu quero mesmo novas paixões
dentro da nossa paixão...

Eu quero mesmo nenhum
dentro de todos.

Como se vivêssemos
em um eterno déjà-vu.

Ao som de: "Atrás da porta" (Chico Buarque), Elis Regina + "Dor e dor" e "Senhor Cidadão", Tom Zé + "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro", Wander Wildner

domingo, 6 de janeiro de 2008

Aprendizado

Aprendi.
Levou um tempo,
mas eu aprendi que existe...

Coragem no medo.
Criança no adulto.
Regra na exceção.
Reforma agrária no coração.

Meu cheiro sem perfume.
Seu olhar no meu olhar.
Qualidades nos meus defeitos.
Divergências sobre a saudade.

Beleza na tristeza.
Amor no desamor.
Inocência e delicadeza no concreto.
Emocional no racional.
Amizade na distância.

Brilho no escuro.
Silêncio no som.
Sol na chuva.
Divino na matéria.

Riqueza na pobreza.
Ausência na abundância.
Apego pelo desapego.
E uma explosão de poesia dentro de mim!

Ao som de: “Romaria”, Renato Teixeira + “Tocando em frente”, Almir Sater e Renato Teixeira

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Leitura de mim - II

Abro as cortinas da visão!
Grito através das janelas da alma!
Destranco as portas do coração!
Derrubo todos os muros do pensamento!
É o anúncio de novos tempos.

Quando empunho meu lápis
neste pequeno pedaço de papel,
eu revelo toda a segurança
que estava guardada há
tanto tempo dentro de mim.

Vou me despindo
de todo o orgulho,
das minhas vergonhas,
dos meus fantasmas,
das minhas incertezas,
num fluxo intenso e inesgotável,
como uma romaria na busca
pelo indiscutível poder
da palavra escrita.

Olho para frente e
não vejo mais recusa.
Não há mais desamor.
Não há mais dor.
Não há mais solidão.

A poesia se entranha em meu corpo
como a melhor companheira
das noites de carência.

Transcendo a experiência de viver
neste presente tão cheio
de ausência e lembranças.

A cada minuto, construo e
desconstruo a minha essência.

E vou divagando calmamente sobre
os porquês de nossa existência
marcada pelas aparências
e pelos desencontros.

Humilde, sinto o cheiro de vida
trazido pela brisa refrescante
do mar de Ipanema, da Lagoa.

Quero caminhar bem distante
da miopia do racional,
para me tornar, de vez,
cúmplice da senhora simplicidade.

Sou hoje.
Sou presente.
Transformo-me em um mundo inteiro.

O futuro e o passado
eu deixo para os livros
sussurrarem aos seus ouvidos.

Sonho acordado.
Com os pés descalços
sobre este chão quente
de janeiro.

Estou novamente nu.
De espírito.
De coração.

Sem rancores.
Sem planos.
Sem ilusões.

Pois a nossa história
nunca foi tão real
como ela se torna
a partir deste momento
que você lê estes versos.

Ao som de: “O meu guri”, Chico Buarque + “Deixa estar”, MPB-4 + “Cara valente”, Marcelo Camelo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Sou fraco, sou forte

Eu ando na corda bamba.
Alegria e tristeza.
Medo e coragem.
Desilusão e esperança.
Fé e descrença.
Noite e dia.

Eu atravesso no sinal verde.
E aprendi, finalmente, como
desprender meu espírito deste corpo
em contagem regressiva
da decomposição.

Eu choro para sorrir e
acordo para sonhar.
Meu desafio está no tempo presente.
Sabendo que a solidão
está guardada para o futuro e
a esperança no passado.

Eu desanuvio em prosa e verso.
Deixando meu legado intelectual entrar
em sintonia, se perpetuar entre vocês.

Eu ando carregado.
Meus sinais de fraqueza são
aparentes e transparentes.
Mas são eles que me tornam,
a cada momento,
deste movimento,
mais forte.

E emocional.
E provocador.
Para o mundo.

Ao som de: “Mãe (Mãe Solteira)”, Tom Zé + "Down em mim", Barão Vermelho

A semântica da lágrima

Quanta dor carrega uma lágrima?
Pois eu vejo poesia na sua essência
e cadência no seu caminhar.

Sua produção está diretamente ligada ao sofrimento?
Pois ela é a tristeza efêmera
e a magia do equilíbrio.

Quantas pessoas choram neste exato momento?
Pois ela é a redenção da fé
e o descarrego dos sonhadores.

À primeira vista, racional, ela é apenas
um pequeno desvio de água
pela face dos desiludidos.

Porém, seu significado guarda
um tempo de coração ferido e perdido.

O sujeito que não chora
provavelmente desconhece o amor,
que se esconde silenciosamente dentro de sua alma.

Afinal, quando ele vai aflorar?

Por onde andam os seus sinais?

Seria a lágrima o grito de liberdade do coração?
Pois ando em busca de uma explicação sobre
o marejo súbito e diário dos meus olhos...

Ao som de: “Meu glorioso São Cristóvão”, Jorge Ben e Gilberto Gil + “Toninho Cerezo”, Pepeu Gomes
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